O desafio da experimentação artística de forma descentralizada

A descentralização da produção cultural da região metropolitana é um desafio para as grandes metrópoles brasileiras, uma vez que os espaços para fruição artística tendem a se concentrar nas regiões centrais, enquanto as cidades do entorno das capitais caracterizam-se como um pólo industrial, com poucas oportunidades de formação e experimentação em artes. Uma das conseqüências deste cenário é a baixa inserção da sociedade, principalmente dos jovens no fazer artístico.

De acordo com Fernanda Roscoe Caetano de Abreu, no artigo Planos Diretores Participativos na RMBH: experiências de planejamento local em municípios metropolitanos, Belo Horizonte pode ser considerada uma metrópole periférica tanto na divisão do trabalho quanto na reprodução de espaços periféricos. Isso por que, desde suas origens os espaços centrais foram destinados às classes média e alta, e as periferias destinadas à mão-de-obra que iria consolidar a metrópole como pólo industrial. “A expansão da metrópole rumo aos eixos industriais a oeste e a norte, induzidas tanto pelo Estado quanto pelo mercado imobiliário, gerou um padrão centro-periferia de segregação espacial, até hoje vigente e que já se manifesta como um enclave, de certa forma, à reprodução capitalista” (p. 3) Essa periferização se reflete também no IDH de algumas das regiões metropolitanas como Betim e Ribeirão das Neves que apresentaram índice abaixo de Belo Horizonte. De acordo com dados do PNUD de 2000, Betim apresenta IDH de 0,755 e Ribeirão das Neves 0,749, sendo que o ideal seria um índice acima de 0,900.

Com base nesse contexto, as cidades escolhidas para a realização do Projeto são: Ribeirão das Neves, Betim e Lagoa Santa, pelo seu caráter periférico e de exclusão social dos jovens. Elas são regiões de baixo investimento em políticas governamentais de incentivo à cultura. Além disso, representam os diferentes eixos de periferização da região metropolitana. Com a criação da Cidade Industrial em Contagem, na década de 1940, foram lançadas as bases para a expansão da metrópole rumo ao eixo oeste, expansão vinculada a processos de industrialização como o de Betim. Já o processo de constituição de Ribeirão das Neves tem relação com a concentração de lotes e especulação dos preços dos terrenos. Dessa forma, a população passa a ocupar locais que apresentavam legislação urbanística de ocupação do solo menos rigorosa. A expansão para o vetor norte da RMBH incluindo Lagoa Santa tem início com a atuação do Estado que implantou o espaço da Pampulha como referência cultural e residencial de alto padrão, impulsionou a expansão industrial ao norte da Pampulha nos demais municípios. Hoje em dia, o vetor Norte se consolida como foco dos investimentos estaduais na RMBH, a partir do incentivo de formação de uma nova centralidade metropolitana.

O projeto Estação de Experimentação Itinerante foi idealizado durante o curso Gestão Cultural do Pensar e Agir com a Cultura, na Fundação Clóvis Salgado por:

Brenda Marques Pena, Flávio Henriques Charchar, Luciana Rocha Vidal, Maurício Moraes e Pâmilla Vilas Boas Costa Ribeiro.

Hoje o Estação de Experimentação Itinerante está sendo desenvolvido pelo Instituto Imersão Latina com o apoio do Observatório da Diversidade Cultural.

Mais informações: info@imersaolatina.com

Na foto: Brenda Mars, integrante do grupo Corpo-língua, performa na Estação Central, do metrô de Belo Horizonte, durante a Mostra Disseminação.

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